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A VIAGEM DO ELEFANTE – José Saramago

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[Para enxugar um post que só crescia, resolvi dividi-lo em itens. Espero que gostem!]

a viagem do elefante jose saramagoO ROMANCE
Com ironia, humor e uma prosa que destila poesia, Saramago reconstrói uma viagem incomum: no século XVI, um elefante chamado Salomão cruzou metade da Europa, de Lisboa a Viena. Em 1551, Dom João III, rei de Portugal e Algarves, casado com Catarina d’Áustria, resolveu oferecer o animal ao arquiduque austríaco Maximiliano II, genro do imperador Carlos V.
Vindo de Goa, algum tempo antes, junto de seu tratador Subhro, o paquiderme a princípio deslumbrara os portugueses com seus três metros de altura e quatro toneladas que botavam para dentro, diariamente, duzentos litros de água e dezenas de quilos de forragem. Até que o encanto se perdeu e Salomão passou a não significar nada além de um grande e imundo bicho mantido num cercado.
Então, a saída veio em forma de ideia mirabolante: enviá-lo como presente de casamente ao arquiduque, então regente da Espanha.

Uma caravana foi armada para percorrer o longo caminho. Um ou outro perigo aparecem, mas os passos de Salomão são seguros. Afora o simpático elefante, temos outros três personagens que merecem destaque: o cornaca (Subhro), o Arquiduque e o comandante da expedição. Os dois últimos mostram o seu autoritarismo, mas são capazes de surpreendentes atos de dignidade. O tratador, entre uma humilhação e outra, encontra espaço e dignidade, e é capaz de atos eticamente reprováveis. Salomão é o único inocente.

SALOMÃO
Hora apenas elefante, hora criação divina, causa espanto e comoção por onde passa – naquela época, boa parte dos europeus jamais havia visto um animal desse porte. Seus interesses? Comer, banhar-se, decidir entre fazer ou não as bizarrices que seus companheiros humanos lhe pedem… Em meio a tudo isso, nos dá, o tempo todo, pistas sobre o que habita seu coração. Durante a longa viagem, o elefante tenta agradar a Subhro e a ligação emocional que há entre eles é fascinante.

SUBHRO
É pela voz do indiano tratador de elefantes que saem as críticas mais afiadas ao sistema. Montado na nuca de Salomão, ele analisa armações religiosas e políticas que se instalam no trajeto.

PODER
É este um dos principais temas do livro. Até que ponto destinos em massa dependem de decisões, nem sempre justas e racionais, dos poucos donos de muito poder, e quão justo é o império sobre a vida alheia?
O próprio elefante é vítima dos homens e da vontade de uns sobre muitos. Há, porém, outra lado a ser discutido: se não fosse enviado como presente, continuaria no esquecimento. A viagem que sela seu destino é a oportunidade que possui de nos apontar o seu valor. Brilhantes reflexões sobre a natureza humana e comentários sobre os poderosos que a insultam são tecidos neste miolo.

ESTILO
Para quem está acostumado à densidade de livros como “Ensaio Sobre a Cegueira” ou “As Intermitências da Morte”, este apresenta uma simplicidade e linearidade que parecem destoar da obra de Saramago. Damos de cara com um autor mais leve, preocupado em “apenas” escrever uma boa história. Estilo coloquial, frases intermináveis, aspas de menos e vírgulas em excesso dão agilidade ao texto.

BIOGRAFIA: SARAMAGO E PILAR

saramago
Em 1988, Saramago, viúvo e com 66 anos, casou-se com uma entusiasmada jornalista espanhola, María del Pilar del Río Sánchez (38). Em 1992, ela teve a ideia de morar em Lanzarote, uma ilha vulcânica de 860 km2 no arquipélago das Canárias. Com 70 anos na época, Saramago não deu corda, mas logo acabou cedendo.

O motivo por estar contando sobre a vida do casal neste post: Pilar foi um acontecimento crucial na vida do autor. Durante entrevista publicada em 2007 no jornal The New York Times, Saramago declarou à esposa: “Se eu tivesse morrido antes de conhecer você, Pilar, eu teria morrido me sentindo muito mais velho”. Talvez não por coincidência, A Viagem do Elefante tem como dedicatória: “A Pilar, que não deixou que eu morresse”. De acordo com a própria, Saramago temeu não conseguir finalizar o livro, debilitado gravemente por uma forte pneumonia no fim de 2007, da qual levou meses para se recuperar. (ah, o amor!)

POR FIM, MINHA PASSAGEM PREFERIDA
O que é um acto poético, perguntou o rei. Não se sabe, meu senhor, só damos por ele quando aconteceu. (Subhro)

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